I - ISRAEL NO
PLANO DIVINO PARA A SALVAÇÃO
1.1 A eleição de Israel no passado (Rm 9.6-29).
Em
Romanos 9.6-13, Paulo afirma que a promessa de Deus a Israel não falhou, pois a
promessa era só para os fiéis da nação e visava somente o verdadeiro Israel,
aqueles que eram fiéis à promessa (Gn 12.1-3; 17.19), pois “sempre há um Israel
dentro de Israel, que tem recebido a promessa” (Rm 9.6). Nos versículos 14-29,
Paulo chama a nossa atenção para o fato de que Deus tem o direito de rejeitar a
Israel, se desobedecerem a Ele e o direito de usar de misericórdia para com os
gentios, oferecendo-lhes a salvação (STAMPS, 1995, p. 1715 – grifo nosso).
1.2
A rejeição presente do evangelho por Israel (Rm 9.30 a Rm 10.21). O erro de
Israel de não voltar-se para Cristo, não se deve a um decreto incondicional de
Deus, mas à sua própria incredulidade e desobediência (At 4.11; Rm 10.3). O estado
espiritual de perdido, da maioria dos israelitas, não fora determinado por um
decreto arbitrário de Deus, mas, resultado da sua própria recusa de se
submeterem ao plano divino da salvação mediante a fé em Cristo (Rm 10.3;
11.20). Inúmeros gentios, porém, aceitaram o caminho de Deus, e se tornaram
“filhos do Deus vivo” (Rm 9.25,26).
1.3 A rejeição de Israel é apenas parcial e
temporária (Rm 11.1-36). As Escrituras estão repletas de promessas de uma
futura restauração de Israel ao aceitarem o Messias. Tal restauração terá lugar
ao findar-se a Grande Tribulação, na iminência da volta pessoal de Cristo (Is
11.10-12; 24.17-23; 49.22,23; Jr 31.31-34; Ez 37.12-14; Rm 11.26; Ap 12.6). O
apóstolo Paulo deixa claro que Israel por fim aceitará a salvação divina em
Cristo por algumas razões:
(a) Deus não rejeitou o Israel verdadeiro (Rm
11.1-6)
(b) Deus transformou a transgressão de Israel numa oportunidade de
proclamar a salvação a todo o mundo (Rm 11.11,12, 15)
(c) O
propósito sincero de Deus é ter misericórdia de todos, tanto dos judeus como
dos gentios, e incluir no seu reino todas as pessoas que creem em Cristo (Rm
11.30-36; Rm 10.12,13; 11.20-24)
II -
ISRAEL E SUA ELEIÇÃO
2.1 A eleição de israel não é superior a dos gentios (Rm
9.24). Havia na igreja de Roma dois grupos distintos, um formado por judeus, e
outro por gentios (Rm 1.13; 7.1). Os judeus não aceitavam o ensino de Paulo
quanto à salvação pelo fato do apóstolo apresentar o novo pacto (a graça), como
capaz e superior ao velho pacto (a Lei) para salvar o homem. O judeu cria que
Deus havia eleito seu povo e por isso a sua salvação estava pré-ordenada e
pré-determinada. No entanto, Deus jamais escolhe alguém com parcialidade, pois
Ele não faz acepção de pessoas (At 10.34; Rm 2.11; Ef. 6.9; 1Pe 1.17).
2.2 A
eleição de Israel não é genética, mas espiritual (Rm 9.6-9). Nem todos os
descendentes físicos de Abraão são filhos espirituais de Abraão (Rm 9.6). Os
verdadeiros filhos de Abraão não são os que têm o sangue de Abraão correndo nas
veias (filiação carnal), mas os que têm a fé de Abraão em seu coração (filiação
espiritual). Se a fé de Abraão não estiver nos corações, de nada lhes adiantará
ter o sangue de Abraão em suas veias, pois, a descendência natural de Abraão
não é garantia de um parentesco espiritual com Abraão. Deus não se deixa
enquadrar como um Deus nacionalista, assim, não são judeus todos os que são
judeus, nem são circuncisos todos os que são da circuncisão (Rm 2.28,29). Os
verdadeiros filhos de Abraão são aqueles que “também andam nas pisadas da fé
que teve Abraão” (Rm 4.12) (MURRAY apud LOPES, 2010, p. 328).
2.3 A eleição de
Israel não é meritória, mas graciosa (Rm 9.10-13). A graça não é concedida por
critério étnico, cultural ou religioso, pois Deus chama dentre os judeus, mas
também dentre os gentios (Rm 9.24). Portanto, a salvação não é endereçada
apenas aos filhos de sangue de Abraão, mas também aos que se tornam filhos de
Abraão pela fé (Gl 3.7). 2.4 A eleição de Israel não é uma predestinação
fatalista (Rm 9.26,27). Paulo está tratando do modo como Deus lida com nações e
povos do ponto de vista histórico, a partir do seu direito de usar povos e
nações conforme Ele quer. Por exemplo, sua escolha de Jacó em lugar de seu
irmão Esaú (Rm 9.11) teve como propósito fundar e usar as nações de Israel e de
Edom, oriundas dos dois. Nada tinha que ver com seu destino eterno quanto a sua
salvação ou condenação como indivíduos como ensinam alguns teólogos fatalistas
III - ISRAEL E O SENTIMENTO DE TRISTEZA DE PAULO
Paulo
declara seu amor por sua gente, os judeus (Rm 9.12-3). Visto que era conhecido
como judeu zeloso, sua conversão a Cristo o tornou antipático para os judeus,
que o viam como “um traidor de sua gente”. Entretanto, Paulo garante que seus
sentimentos são sinceros e que sua consciência tinha o testemunho do Espírito
Santo (Rm 9.1).
3.1 A incredulidade dos judeus e a tristeza de Paulo (Rm
9.1,2).
Paulo passa da exultação do final do capítulo 8 para a profunda
tristeza do começo do capítulo 9. A confissão de amor de Paulo por seus
compatrícios não é uma retórica vazia nem uma declaração hipócrita, dissimulada
e fingida, mas uma realidade. Os judeus, irmãos e compatriotas de Paulo segundo
a carne, ainda estavam aferrados à sua tradição religiosa, sem Cristo e sem
salvação, e isso provocou no apóstolo grande tristeza e dor (Rm 9.2) (LOPES,
2010, pp. 323,324).
3.2 A profunda dor do apóstolo em relação aso judeus (Rm
9.3).
Paulo desejou ser apartado de Cristo para que seus irmãos fossem
reconciliados com Cristo, desejou ser maldito para que seus compatriotas fossem
benditos, desejou ir ao inferno para que os seus irmãos fossem ao céu. Paulo se
mostrou disposto a ficar fora do céu por amor aos salvos e a ir ao inferno por
amor aos perdidos. Paulo estava pronto a ir às últimas consequências para ver
seus compatrícios salvos. O sentimento de Paulo nos lembra de Judá que, como
substituto de seu irmão Benjamim (Gn 44.33), recorda-nos as palavras
emocionantes de Moisés ao interceder pelo povo (Êx 32.32), e o agonizante
clamor de Davi por seu filho (2Sm 18.33). Porém, acima de tudo, ele fixa nossa
atenção naquele que realmente se fez o substituto de seu povo (Rm 3.24,25;
8.32). “Parece inacreditável que um homem se disponha a ser amaldiçoado a fim
de que os malditos possam se salvar”
IV - OS
PRIVILÉGIOS DE ISRAEL
Nenhuma nação no mundo recebeu as bênçãos que Israel
recebeu. Vejamos os privilégios para Israel apresentados por Paulo nesta Carta
4.1 A descendência “Que são israelitas...” (Rm 9.4).
Como promessa divina, visto que foram feitos filhos ou povo peculiar de Deus,
tirado do meio das nações (Êx 4.22; Os 11.1).
4.2 A adoção “.... dos quais é a
adoção de filhos” (Rm 9.4). A “adoção” se refere à sua eleição teocrática, pela
qual eles foram separados das nações pagãs para se tomarem os primogênitos de
Deus (Êx 4.22), sua possessão particular (Êx 19.5), seu filho (Os 11.1), seu
povo escolhido (Is 43.20).
4.3 A glória “.... e a glória” (Rm 9.4). A “glória”
era o sinal visível da presença de Deus com eles. Essa glória deve ser reputada
como referência àquela que se manifestou e permaneceu no monte Sinai (Êx
24.16,17), a glória que cobriu e encheu o Tabernáculo (Êx 40.34-38), a glória que
aparecia sobre o propiciatório, no Santo dos Santos (Lv 16.2), a glória do
Senhor que encheu o templo (lRs 8.10,11).
4.4 As alianças “... e as alianças”
(Rm 9.4). As “alianças” estão no plural porque o pacto de Deus foi
progressivamente revelado. Devemos considerar o plural como denotação das
alianças abraâmica (Gn 15.18; 17.4), mosaica (Êx 24.8; 34.10; Dt 29.1); nos
dias de Josué, o sucessor de Moisés (Dt 27.2; Js 8.30; 24.25); e davídica (2 Sm
23.5; Sl 89.28).
4.5 A legislação “... e a lei” (Rm 9.4). Deus favoreceu de
modo especial Israel, pela dádiva da Lei. Deus deu preceitos e instruções a seu
povo para guiá-lo no caminho da santidade. A concretização da aliança feita com
o aparecimento da Lei concretiza a preocupação divina com a vida cotidiana do povo
judeu (Êx 20.1-17).
4.6 O culto “... e o culto” (Rm 9.4). O “culto” aqui fala
da adoração do verdadeiro Deus de modo verdadeiro. Paulo diz literalmente:
“deles é o culto”, no sentido de que foi privilégio particular da nação
israelita cultuar ao Deus verdadeiro, visto que as demais nações não conheciam
esse Deus verdadeiro. Hoje, pela graça do Senhor Jesus, todos quantos o aceitam
têm direito de cultuar a esse Deus.
4.7 Os patriarcas “... dos quais são os
pais” (Rm 9.5). Os “patriarcas” se referem a Abraão, Isaque e Jacó, os pais da
fé de quem eles descendiam e podiam orgulhar-se (Êx 3.6; Lc 20.37; Is 55.1; At
13.23,32-34). A estes, Deus fez promessas, que representam toda a esperança de
Israel. É impossível deixar de reconhecer os “pais da antiguidade”: Abraão,
Isaque e Jacó, que revestiram de glória todas as gerações dos judeus até o
presente (Êx 3.6,13; Lc 20.37).
4.8 A descendência de Cristo “... e dos quais é
Cristo segundo a carne”. (Rm 9.5). Paulo completa a sua lista dos privilégios
do povo judaico mencionando o Messias demonstrando uma honra que nunca pode
ser-lhe arrebatada. Paulo deixou por último “a Cristo” por ser o mais eminente
dos privilégios dos judeus. É indiscutível o fato de que o Cristo, o Ungido, é
o “Verbo divino que se fez carne” (Jo 1.1,14) e “habitou entre nós”. Como Deus
bendito, Cristo nasceu como homem, “segundo a carne”, descendendo dos judeus e
sua humanização não afetou em nada a sua divindade. Paulo faz um tributo à
divindade de Cristo, quando diz que Ele é “sobre todos”, isto é, exalta-o e o
coloca em sua real posição de supremacia. Ainda mais, Paulo o trata como “Deus
bendito eternamente”. Esse tratamento é identificado no AT, quando o salmista
precede o nome de Deus com a palavra “bendito” (Sl 68.35; 72.18). Finalmente, entende-se
que Cristo descendeu dos judeus “segundo a carne” para revelar-se ao mundo todo
como o Redentor de todos os homens (Mt 1.1; Jo 4.22; Rm 1.3; Hb 2.16; Ap 5.5).
CONCLUSÃO
Concluímos que assim como Deus ama Israel e o escolheu como povo
santo e peculiar, também, da mesma maneira amou os gentios sem nenhuma acepção
ou distinção. Não podemos negar que os judeus são privilegiados por ser o povo
eleito para ser o receptor das bênção descritas em Romanos 9; porém, isso não
os torna melhores e nem superiores aos demais povos, pois o Senhor jamais
escolhe com parcialidade, e não faz acepção de pessoas (At 10.34; Rm 2.11; Ef.
6.9; 1Pe 1.17).
Fonte : Site da Rede Brasil de Comunicação